As Feiras

“A feira é uma instituição de comércio, que consiste em três vetores essenciais: a sua localização em determinado local, a existência de prazos e a definição de termos determinados entre produtores, distribuidores e consumidores. A feira podia ter um carácter regional, inter-regional ou mesmo internacional. Inicialmente, as feiras estavam relacionadas com as festas da Igreja. No local onde se realizava a feira, a paz era a lei (ou tréguas de feira). No que diz respeito ao tempo de duração, a feira durava, no máximo, oito dias. É no século XIII que a feira atinge o seu verdadeiro apogeu histórico, quer em Portugal, quer em todos os reinos europeus.
A primeira menção de uma feira portuguesa em foral data de 1229, em Castelo Mendo; no entanto, um documento de 1125 alude já à existência de uma feira em Ponte de Lima, sendo esta a referência mais antiga. A feira de Castelo Mendo, registada já em foral, realizava-se três vezes por ano, e tinha uma duração de três dias. Todos aqueles que queriam vender nesta feira tinham uma proteção de 16 dias para além dos três de duração: oito antes da feira e oito depois desta. Este privilégio, como outros, fez com que a feira se desenvolvesse, não só em Castelo Mendo mas por todo o país. Os feirantes estavam isentos de pagar qualquer direito fiscal (portagens ou costumagens). As feiras que dispunham deste tipo de regalias denominavam-se feiras francas. Foi no reino de D. João I que elas se generalizaram, com forte apoio régio.
Antes das feiras ganharem tal impulso, existiam os mercados locais. A feira era uma concessão que apenas fazia parte dos estatutos municipais, sendo os mercados frequentes. No século XIII, a centúria de afirmação das feiras no Portugal medievo, as principais feiras existentes eram as de Ponte de Lima, Évora, Vila Nova, Melgaço e Constantim (Vila Real).
No reinado de D. Afonso III registou-se um aumento do número de feiras, com os privilégios e os direitos dos feirantes a multiplicarem-se. O mesmo monarca facilitou e fomentou bastante o comércio interno com o intuito de aumentar os recursos populacionais.
Nos reinados de D. João e de D. Manuel eram inúmeras as cartas régias que confirmavam os privilégios das feiras. O duque de Bragança alcançou uma mercê de D. João III para repartir vantajosamente os oito dias da sua feira franca de Vila Viçosa. Em 1576 foi também concedida uma feira franca à cidade do Porto.
Durante o século XVIII ainda foram instituídas feiras. No Porto criou-se em 1720 uma feira franca de fazendas animais. Em 1776 em Oeiras, surgiu a primeira feira de produtos industriais. A partir do reinado de D. Manuel as feiras entraram em decadência.
No entanto, as feiras mantiveram a sua presença em território nacional, embora sem a importância económica, cultural e social que registaram até aos Descobrimentos. De polo aglutinador de populações e tradições, de contactos e trocas a todos os níveis, que foram na Idade Média, as feiras acabaram por se subalternizar face a outras estruturas de comércio, principalmente nos maiores centros urbanos, onde o crescimento populacional exigia – e exige – uma frequência mais quotidiana de atividades de compra e venda de produtos. No interior as feiras mantiveram sempre a sua importância civilizadora e de encontro de povos, ideias e de trocas, para além de espiritualidades. Atualmente, assiste-se a uma tentativa de recuperar, folclórica e turisticamente, a imagem e o fascínio das feiras medievais. As feiras subsistem, sendo de todos os géneros, cada vez mais internacionais ou pelo menos nacionais, especializadas, em espaços criados para o efeito e como local de montra de progressos industriais, agrícolas e de muitas outras valências da sociedade atual, como o desporto, o audiovisual, o turismo, etc. Um pouco na sequência das feiras temáticas, industriais principalmente, de pendor universalista, do século XIX. Neste século a indústria alterou-lhes a fisionomia e a peculiaridade, mas as feiras ainda subsistem na sua pureza em muitas terras do interior de Portugal e de outros países, ainda subordinadas ao calendário religioso e às tradições sacroprofanas dos ritmos da natureza (colheitas, no S. Miguel, cavalos no S.to André…).”

Fonte: Infopédia ( http://www.infopedia.pt/$feira,2)

Feira dos 12 e 29

“No mais minucioso artigo até à data dedicado ao tema das feiras bimensais da Palhaça, incluído em Palhaça – História dos Espaços Sociais e Comunitários [séculos XIX-XX], o autor, Carlos Braga, assume, desde o início, que a escassez de fontes orais e escritas sobre o assunto dificultam a compreensão do porquê da origem da feira – periódica e oficial – dos 29 na Palhaça, em Junho de 1715, data que coincidiu com «a festa anual do apóstolo S. Pedro» (como a literatura baseada em «tradições orais» parece comprovar). Porém, admite que, sobre as razões religiosas, comerciais e culturais, estará um motivo especialmente geográfico.

O na altura Mercado das Palhoças tinha lugar «numa praça que é a confluência dos Quatro Caminhos, a cerca de um quilómetro da [actual Igreja Velha]». Os ditos caminhos ligavam Águeda a Vagos e Aveiro a Coimbra. É bastante plausível a ideia de que a junção destas vias fosse bastante benéfica para o lugar da Palhaça, que inicialmente não era central. Ainda no século XVIII, o Mercado estender-se-ia para «o espaço triangular adjacente», após a doação à junta da paróquia deste terreno por Manuel de Oliveira [N: não confudir com o padre Manuel Oliveira], possivelmente o primeiro benemerente da Palhaça.

A construção da Estalagem do Quartel-Mestre, em 1750, em frente ao Mercado das Palhoças, poderá constituir um sinal de que era frequentada por gente de «longe» e da relevância da feira, embora Braga defenda a hipótese de «até 1865 a feira [ser] ainda muito incipiente», visto que, pelo menos, até aí as principais receitas da junta da paróquia provinham de outras fontes. O espaço, segundo o autor palhacense, «funcionava como ponto de paragem e descanso dos viajantes, se nos lembrarmos que em finais do século XVIII a velocidade média de uma diligência era de 3,4km/hora».

Quanto aos produtos vendidos e trocados neste mercado, o Dicionário Geográfico manuscrito de 1758 reúne num inventário «toda a casta de gados, tendas de bufarinheiros, buréis, panos de linho, estopa e de outras coisas mais para uso das gentes, e coisas comestíveis».

Relativamente à data precisa em que ocorreu a primeira feira dos 12, existem, no mínimo, duas versões. A mais verosímil, sustentada no cruzamento de várias informações escritas (actas e uma notícia da imprensa regional da altura), ao contrário da outra, apoiada em testemunhos orais, aponta o dia 12 de Janeiro de 1903 como o marco para uma nova era – a das feiras bimensais. E porquê duas feiras por mês? «(…) se uma das feiras se realizava no final da segunda quinzena de cada mês , fazia sentido que surgisse o interesse em marcar outra para o final da primeira quinzena», conjectura Braga.

O século XX é marcado por uma série de agitações, no que às feiras concerne, especialmente no período imediatamente a seguir à implantação da República. Em 1911, o vedamento da feira é envolto em polémica e não acontece. Havia, nesta altura, ainda quem exigisse uma maior transparência da Junta sobre os rendimentos da feira. Em 1923, chegam a existir três feiras mensais na Palhaça, o que é contestado por vários feirantes. Mais tarde, em 1978, as feiras móveis (alteração do dia de feira para segunda-feira quando os dias 12 e 29 «calhavam» ao domingo) também causariam comichão junto de, pelo menos, 109 feirantes, que assinaram uma petição para que as feiras voltassem a ser fixas. Antes, em 1949, dava-se a demolição de barracões de adobe no actual Largo de S. Pedro, precisamente no ano da construção do Coreto. E até 1988, os engarrafamentos provocados pelo trânsito nas vias públicas eram o prato principal em dias de feira. Nesse ano, a feira despede-se dos diversos pousos – «vários largos e ao longo das vias de comunicação» – onde se manteve durante décadas e concentra-se no antigo espaço da feira do gado, onde, até hoje, tem lugar.

Relativamente à origem dos materiais vendidos na feira, as respostas a uma série de inquéritos realizados entre 1982 e 1992 junto dos feirantes denotavam que as verduras e frutas provinham das hortas da Palhaça ou das na altura aldeias vizinhas, os ourives de Cantanhede e Anadia, as confecções de Aveiro e Coimbra e os sapatos, malas e chapéus de Oliveira de Azeméis, de Santa Maria da Feira e de São João da Madeira. Estes dados, apresentados meticulosamente no trabalho de Carlos Braga, permitem afirmar que as Feiras da Palhaça nunca foram mercado só de e para palhacenses. Aliás, os mercadores palhacenses raramente foram uma maioria.

Actualmente, a componente cultural e social das feiras da Palhaça encontra-se praticamente extinta, conclui Braga. Os pregões, os fantoches, os «propagandistas de pechinchas» e «as ciganas prometendo adivinhar a sina na palma da mão» mal se vêem e/ou ouvem. O comércio puro e duro é a ementa principal, mesmo que o número de visitantes e compradores esteja, a olhos vistos, a decrescer. ”

Fonte:http://www.freguesiadapalhaca.pt/home.php?t=ct&c=38

Feira dos 13

“A Feira dos 13 remonta ao ano de 1693, ano em que as Câmaras da Vila da Ermida e da Vila de Ílhavo pediram a D. Pedro II a mercê de estabelecerem uma Feira na Vista Alegre.

O alvará régio marcava os dias 12, 13 e 14 de setembro de cada ano para a realização de uma Feira Franca e, em qualquer dia de todos os meses, um mercado ou feira, propriamente dita.

Em 1696, os dias da Feira Franca foram alterados para 7, 8 e 9 de Setembro. No entanto, esta feira nunca chegou a realizar-se, ficando estabelecido o dia 13 de cada mês.

Com o passar dos tempos, a Vista Alegre foi-se tornando um lugar de afluência de muitos viajantes, devotos, forasteiros, comerciantes, industriais e lavradores, tendo-se a Feira revelado de extrema utilidade para os habitantes da região que evitavam as deslocações a Ílhavo ou Aveiro para abastecimento de bens.

A Feira dos 13, assim denominada por se realizar todos os dias 13 de cada mês, tem lugar desde 2004, no recinto da Vista Alegre e funciona como um mercado típico, onde se vende um pouco de tudo, mantendo nos dias de hoje a sua vitalidade e grande afluência de público.”

Fonte:http://www.cm-ilhavo.pt/pages/364